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Tropeços

  • Foto do escritor: Rafaela Chor
    Rafaela Chor
  • 30 de dez. de 2021
  • 2 min de leitura


Eu ando por calçadas um tanto esburacadas e cheia de pedaços soltos do que um dia fez parte de um solo liso, impecável e não utilizado.


A questão das calçadas novas é que elas abafam todos os resquícios de pedras libertas que foram gastas com as passadas de inúmeras pessoas que carregavam seus respectivos pesos.


Eu caminho pisando pé atrás do outro buscando chegar até qualquer destino sem a ajuda de qualquer mapa. Se a sábia já dizia que “perder-se também é caminho”, quem sou eu para encurtar uma experiência que pode me levar a um lugar muito melhor do que o destino antes planejado.


Quanto mais meus calçados gastos andam desnorteados, encontro diferentes tipos de texturas que moldam meus all stars de maneira com que eles pareçam ainda mais originais quando usados demasiadamente.


Meu pé se encaixa na sola do tênis perfeitamente emoldurado com o formato dos meus dedos e eu sinto que eles comunicam aos meus joelhos que a jornada é longa, e que é melhor se preparar para as poças d’água inevitáveis, pois o tempo tem vida própria e pode te enganar.


O caminho é tortuoso e cheio de desníveis propícios a tropeços, mas quanto mais eu ando, mais me sinto como a versão mais atual de mim, mais experiente e calejada para saber que, seja lá qual for a linha de chegada, isto é, se realmente existir uma, foi construída em cima de todas as vezes em que pisei em meu próprio cadarço.


Vezes essas que me ensinaram a utilizar meus membros, antes acostumados a apenas acompanhar a trajetória e empurrar o chão com força no intuito de me levantar o mais alto possível. E parece que a cada vez que essa dança inesperada acontecia, eu ganhava centímetros em minha espinha, me tornando uma pessoa que aprendeu a ver as situações por cima.


Há pessoas que dizem que não sabem dançar, e mal elas sabem que cada uma delas cria sua própria balada ao decidir qual passada é a mais apropriada para aquele percurso.


Pessoas caminham para o trabalho utilizando o mesmo trajeto juntamente com o seu cabresto, fazendo com que só uma direção seja possível. Não será eu quem vai contar para elas que ao cair no chão você pode ter visão privilegiada das nuvens, e de que, a cada segundo, cada passo da dança delas é irreproduzível.


O mundo é uma coreografia em que as pessoas preferem dançar sozinhas ao som dos seus fones de ouvido.





 
 
 

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