Sombra
- Rafaela Chor
- 13 de fev. de 2022
- 2 min de leitura
É sobre você que eu vim falar. Sobre o seu hábito de me tragar como se fosse qualquer uma na sua carteira de cigarros. Sobre a sua mania de me deixar completamente alienada do mundo quando tudo o que eu mais queria era me banhar nas suas histórias.
Sobre o teu beijo descabido e a sua habilidade de me controlar na palma de sua mão. E também sobre essas mãos fortes que seguram meu corpo como se ele flutuasse nos teus dedos.
É sobre isso que vim falar. Sobre a sua dança impecável de quem quer alguma coisa, mas também da sua coreografia de quem tem o talento para ir embora.
Eu vim dizer que a tua volta e meia em meu peito se tornou cansativa e está na hora de fazê-lo bater novamente em seu ritmo natural.
Isso significa que terei que me desintoxicar e, a qualquer sinal de abstinência, terei que literalmente segurar meus pés para que eles não corram diretamente até a sua casa.
Você é tão boa em manter a sua vida no escuro que esqueceu de se dissociar da sua própria sombra.
E eu, eu acredito no poder da luz que entra quando uma fresta é aberta, então é por isso que venho dizer que quem está indo embora dessa vez sou eu.
Espero que você tenha sentido que me inalar pela última vez na noite de ontem tenha sido o suficiente para você, pois eu estou desatando os nós dos meus cadarços e indo embora de vez.
Este é um adeus para todas as inconstâncias e intolerâncias que eu tive que tolerar. É um adeus quente, tão quente que quase me derrete a pele e me coloca à mostra os ossos, nua.
É quente porque ele pulsa como lava, só que eu decidi não me aventurar mais em ambientes inóspitos como você.
O sol quente agora sou eu e eu decidi me esquentar para compensar toda a frieza que venho coletando nesses últimos meses. Eu espero que você possa sair do lugar que te prende ao que é intransitável e eu, finalmente ando sem checar a minha sombra, e, sim, apreciando o meu reflexo.

Comments