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Foto do escritorRafaela Chor

Para os notívagos

Hoje eu não estou conseguindo dormir. Faz tempo que a insônia tem se tornado minha melhor amiga e você tem se afastado cada dia mais.


Parece que o mundo sempre tem um jeito de inverter as coisas quando não queremos mudança alguma, tomando conta em nossas vidas.


O único benefício de estar acordada às 3h da manhã numa segunda-feira é que consigo ver aquilo que as pessoas perdem.


Vejo uma, duas, três estrelas emparelhadas. Se minha mãe estivesse aqui, diria que eram as três marias e que, se eu apontasse para elas, nasceria uma verruga bem grande na ponta do meu nariz.


Enxergar as coisas que nem todos conseguem ver é algo que eu valorizo em mim, e olha que para eu valorizar algo que diga a respeito de mim mesma é uma tarefa quase impossível.


Talvez eu esteja só numa verborragia sem intuito algum, mas decidi falar de você enquanto me encontro à meia-luz no quarto.


Olhar o céu sempre me foi um prazer enorme, porque, com que frequência você vê alguém olhando para cima? 


Eu acredito que, se alguém decidiu ir embora da vida de alguém pelos diferentes hábitos de onde dirigir os olhos, acho que o afastamento tenha sido para melhor.


Sempre foi você, mas agora parece que sobrou só eu. E está tudo bem, eu consigo lidar com o pensamento de estar sozinha, contanto que eu esteja acompanhada da sensibilidade que vê o mundo de forma diferente.


Ao contrário do que diversas pessoas dizem, não há nada de errado em ver beleza onde ninguém vê. Eu aposto que você nunca parou para observar as formigas andando em linha no tronco crespo de uma árvore e nunca nem sentiu sua textura.


O fato é que está na hora de eu me devolver para mim. De me entregar por inteiro aos meus pontos de vista. Estou cansada de ser programada a enxergar tudo através dos olhos terceiros.


Minhas vistas sempre carregaram poesia e sempre levaram em si um toque doce para tudo o que parece amargo para as outras pessoas.


Calhou que esta carta, que era destinada a você, acabou apresentando o meu nome. Caiu no meu colo e fez com que eu lesse cada palavra endereçada aos meus próprios ouvidos, escritas pela minha própria mão.


O relógio não é mais meu inimigo hoje, muito menos eu mesma.




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1 comentario


Alice Santiago
Alice Santiago
26 may 2024

Que lindo!

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