Em construção
Que o céu da minha boca abrigue todas as histórias contadas por nossas línguas nos momentos de dança entre nossos corpos quentes. Que a tua saliva consiga cobrir meu corpo inteiro como uma camada protetora, com o intuito de guardar cada resquício da energia que você provoca nele. Que ela nunca saia, por favor.
Não leve embora a sensação que você me causa quando chega pela porta e me abraça sem nem ao menos me tocar. Não vá embora levando o meu toque num bolso qualquer da jaqueta.
Eu nunca servi para me confinar em lugares apertados. Nasci para buscar o mundo com as mãos, pés e peito aberto, mesmo que ele seja rasgado com certa frequência pela ventania forte que minhas costelas tendem a falhar de proteger.
Meu bem, você nem faz ideia de como o teu corpo me parece uma dessas cidades grandes em que você nunca consegue explorar tudo e sempre encontra cantos desconhecidos. A verdade é que mesmo se eu traçasse você num mapa, qualquer pessoa que tentasse lhe adentrar se perderia ao encaixar olhos, quadril e mãos com você.
Somos cidades em construção, sempre com avisos de cuidado, mas com a persistência de que pode haver melhora de algo que se encontra quebrado.
Você me é entorpecente, sempre foi, e, para ser honesta, eu acredito que com o tempo me acostumei com a vontade de querer teu carinho, mesmo que ele não seja dado através do toque. A verdade é que, eu não preciso ser tocada por você para saber que a textura da sua pele não parece seda. Não, não parece.
Tua pele tem texturas distintas e está longe de ser aquelas que costumávamos ver nas revistas. Que bom. Eu nunca fui muito íntima do que parece ser plano. Teu corpo me é escada sem destino final e, arrisco-me a dizer que eu não gostaria de chegar no topo, pois, o caminho, mesmo que às vezes tortuoso, me parece delirante o suficiente.
Ah, meu bem, você nem faz ideia do que os meus ouvidos me contam enquanto você está perambulando os lábios pelas minhas orelhas. Creio que deixei algumas histórias plantadas nos teus também nesses momentos de troca de eternidade momentânea e, fique à vontade para ouvi-las quando quiser se eu não me encontrar presente.
Esses dias eu andei me perguntando onde eu encontraria outra parceira de dança que fizesse com que meus sentidos se confundissem por inteiro, que desse nó em minhas vísceras e ao mesmo tempo desatasse tudo num tocar de mãos e, sinceramente, não achei nome que não fosse o nosso.
Não teu, não meu, o nosso. Seja lá qual for, está rodeado por uma faixa que diz “em construção”.
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