30 e poucos
Em 58 dias eu completo 30 anos. Lembro que quando completei 20 anos fiz um texto chamado “20 e poucos” em que mostrava todas as minhas expectativas que não foram cumpridas até aquela idade.
Com 30 anos, sinto que as coisas serão um pouco diferentes. Minhas expectativas mudaram e eu sinto que estou prestes a chegar a uma idade que pode me trazer momentos incríveis.
Algo dentro de mim me diz que a virada para os 30 anos será muito bem recebida. Eu pude me ver crescer, envelhecer e, o mais importante, amadurecer.
Me vi chorar desesperadamente de tristeza e gargalhar de alegria. Os 20 e poucos não foram fáceis, isso eu digo com toda a certeza do mundo. Me vi passar por tantos altos e baixos que, às vezes, penso em como cheguei até aqui.
Vivi intensamente o início dos 20 e poucos, fui em baladas, festas, me reuni com amigos, tive experiências que jamais vou esquecer. Mas, também vivi momentos que eu adoraria conseguir apagar da memória.
Me aventurei em diversas linguagens da arte. Cantei, toquei, pintei quadros, esculpi, atuei em peças de teatro, fiz performances e, ainda sim, por algum motivo, eu ainda preciso da aprovação dos outros para me entender como artista.
Como pode, não é mesmo?
Se tem uma coisa que eu aprendi nesses quase 30 anos é que eu preciso deixar de lado as opiniões alheias para me colocar no lugar onde eu deveria estar, onde sempre pertenci. Na arte.
Quando você amadurece, cresce, envelhece, seja lá como você prefira dizer, você tem a sorte de ver os outros crescendo com você. Vejo meus irmãos, meus amigos e, principalmente, meus pais. Meus pais estão envelhecendo.
Eu não suporto a ideia de vê-los envelhecer ainda mais, parece que algo dentro de mim quer tê-los jovens e perto de mim para sempre. Mas, sabemos que essa não é a realidade.
O ser humano é perecível, temos prazo de validade e ninguém pode mudar isso, muito menos a ciência. Mas, acredito que somos eternizados em forma de arte. É assim que pretendo ser lembrada quando completar 40, 50, sabe-se lá quantos anos.
Eu mal vejo a hora de descobrir como será o texto que escreverei quando completar 40 anos. Tudo será diferente. As pessoas que me cercam, como eu lido com a ansiedade do mundo (demorou para essa palavrinha surgir aqui, mas ela me acompanha há anos) e a minha forma de ver o mundo também mudará, até porque o mundo também será outro.
Nos meus 20 e poucos, eu lembro de deixar a ansiedade me dominar, precisar de remédios tarja preta para controlar aquela sensação insuportável que é se sentir em pânico. Na verdade, eu nunca deixei nada, ela que me dominou à força. Eu só não tinha forças para lutar de volta.
Agora, longe dos tarjas pretas, eu controlo a situação e ela não me incomoda nem um terço do que incomodava antes.
Não sei como isso aconteceu, tem coisas que simplesmente acontecem aos poucos que você nem enxerga a mudança até ela ser muito discrepante da situação na qual você costumava viver.
Chegando perto dos 30, eu também percebi que as amizades diminuem muito e o sentimento de solidão é constante, pelo menos para mim. Percebi que a gente sempre acha que está atrasado para alguma coisa.
Atrasado em relação aos outros, principalmente. Essa sensação que vem ao se comparar com alguém que parece ter a vida mais bem-resolvida que a sua deixa qualquer pessoa enlouquecida.
Eu aprendi que paciência é a palavra-chave dos 30 anos. Paciência que você chegará onde quer chegar. De que vale chegar a um destino se você não aproveitou nada do caminho?
Eu viajei muito quando criança com minha família, e sempre tive essa mania de olhar para a janela e ver as paisagens, olhar as nuvens e imaginar que formato elas têm, ver os animais, as diferentes cores de barro nas montanhas.
Eu sempre tive a chance de aproveitar a paisagem, mas quando se cresce, seu interesse pelo formato das nuvens diminui aos poucos. De repente você não sente mais vontade de contar quantas gotas de chuva batem na janela.
Me parece que os 20 e poucos são feitos para ser vividos em uma esteira onde você não controla a velocidade, apenas aprende a correr no ritmo imposto por alguém.
Porém, chegando aos 30, sinto esse ritmo diminuindo novamente e me deu vontade de contar as estrelas do céu à noite. Sinto a vontade de me balançar na rede e aproveitar o barulho que o tecido faz no gancho de metal.
Não, não estou falando sobre aposentadoria precoce, e sim sobre apreciar as pequenas coisas que a vida te proporciona. Não é tão difícil sentir o tronco das árvores crespas e pensar em quantos anéis se escondem ali dentro daquele tronco.
Meu texto dos 30 está completamente diferente do que eu escrevi quando completei 20 anos, e eu nunca estive tão contente por isso. Eu espero que tudo continue sendo diferente e que a calmaria possa me abraçar de vez em quando.
Mas algo que eu disse aos 20 anos faz sentido até hoje, e é algo que levo para a vida. 20 sempre foi apenas um número, e 30 também será.
Quem dita o ritmo das nossas vidas, quantas experiências e vivências nós tivemos somos nós. Número nenhum vai ditar se você deve ou não tomar um banho de chuva, ou se deve experimentar uma comida nova, se deve viajar para outro país com uma cultura completamente diferente da sua.
Os números não dizem mais nada para mim, eles são apenas matemática, e eu sempre fui de humanas.
O que eu quero dizer é que tudo bem se assustar ao completar uma idade, mas isso jamais deve dominar como você age, como você enxerga o mundo e como você trata a si mesmo.
Nos 20 e poucos eu fui cruel comigo mesma, apesar de ter tido diversos momentos de autocuidado. Lembre-se de que a primeira pessoa que você deve tratar bem é a si mesmo.
Qual foi a última vez que você se fez carinho? Que você se agradou com sua comida favorita? Isso é algo que venho trabalhando há anos e ainda não cheguei no ponto onde gostaria de chegar, mas o importante é estar em movimento.
E só está em movimento quem vive, quem ama, quem dança, quem enxerga ao invés de apenas ver, quem escuta ao invés de apenas ouvir e quem decide abraçar a si mesmo, ao outro e a vida.
É sempre tempo de se apaixonar por algo, e nos 30 isso não poderia ser diferente. Sigo espalhando o amor em forma de arte, assim como nos 20, mas agora, com a cabeça que entende que processos podem demorar uma vida inteira e não dá para passar a vida inteira esperando que aquilo aconteça.
É sempre tempo de agir, e eu estou pronta para levantar o pé e dar o próximo passo.
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